A Associação Paulo Tonucci (APITO) realizou, no dia 25 de outubro, o segundo ciclo do Seminário “Os Desafios de Ser Crianças e Adolescentes em Camaçari”. O evento, realizado na Escola Municipal Denise Tavares, contou com a presença de educandos, educadores, familiares, amigos e autoridades, como a presidente do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos das Crianças e Adolescentes), Eliete Faustina, os vereadores Tagner e Kaique Ara, além de representantes das secretarias de Saúde e Cultura do município.
Os adolescentes do projeto Educação com Arte: Direitos de Todas as Crianças e Adolescentes mostraram-se protagonistas de suas próprias histórias. Durante o encontro, atuaram como verdadeiros anfitriões, interagindo com o mediador, as famílias e o público presente, fazendo perguntas, tirando dúvidas e demonstrando atenção e interesse em cada fala e atividade.

As apresentações artísticas foram um dos pontos altos do seminário. A arte se fez presente em diferentes expressões: na dança, que encantou o público; nos jogos interativos, que uniram poesia, história e música; e na oficina de leitura e escrita criativa, que emocionou a todos com a leitura de uma carta aberta ao prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, solicitando medidas efetivas para garantir mais segurança aos jovens.

Os educandos da Oficina de Robótica também tiveram destaque ao apresentar um fluxograma com informações sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), demonstrando domínio do tema e reforçando a importância de conhecer e divulgar os direitos da infância e da juventude. O grupo de teatro encerrou o encontro com uma reflexão potente sobre a importância de “vestir a camisa” de um projeto que defende os direitos das crianças e adolescentes e acredita na força transformadora da juventude de Camaçari.

O educador e psicólogo Ricardo Pena avaliou o evento como “formidável” e destacou a importância de pensar as situações da infância e adolescência a partir do contexto local. “Foi um espaço fantástico, que possibilitou uma discussão profunda sobre a infância e a adolescência, evitando aquele olhar universalista que muitas vezes nos impede de enxergar os desafios mais próximos de nós”, afirmou.
Ele ressaltou que a violência urbana e digital foi um dos temas que mais o fez refletir. “A violência tem afastado crianças e adolescentes das ruas, limitando seu direito à cidade e à convivência, enquanto os expõe de forma cada vez mais vulnerável ao mundo digital. Não existe um único tipo de violência, ela se manifesta nas ruas, nas desigualdades sociais e até dentro das escolas.”
Ricardo Pena destacou ainda que o seminário deve gerar reflexões mais amplas sobre a formação dos jovens, apontando o protagonismo e o projeto de vida como elementos essenciais para reduzir a violência e fortalecer a saúde mental. “Espero que essa discussão reverbere não só na atenção às questões relacionadas à violência, mas também na compreensão de como diferentes fatores, como o protagonismo e o projeto de vida, podem contribuir para diminuir a violência nas escolas. Esses temas são fundamentais para a saúde mental dos jovens”, concluiu.
Para Eliete Faustina, presidente do CMDCA e gestora da Creche Comunitária Esperança da Estiva, o seminário reforçou a importância do diálogo entre educadores, famílias e a sociedade. “Participar do seminário sobre o que é ser criança e os desafios de ser criança e adolescente em Camaçari foi uma experiência muito importante. A fala do professor Roberto Souza trouxe leveza e sensibilidade aos temas discutidos. Aproveito para agradecer à APITO pelo convite”, destacou.

O professor Roberto Souza, mediador do seminário, enfatizou a necessidade de olhar com sensibilidade para a realidade vivida por crianças e adolescentes no município. “Tivemos um grupo com consciência clara sobre os desafios de ser criança e adolescente em Camaçari. Fiquei profundamente sensibilizado ao perceber o quanto eles estão afetados pela violência não apenas urbana, mas todas as formas de violência que ameaçam o direito à cidade”, afirmou.
Segundo o professor, essa realidade exige resposta urgente da sociedade e do poder público. “Isso sinaliza para nós, adultos, sobretudo para quem tem poder de decisão política, a necessidade de construir uma cidade em que crianças e adolescentes possam usufruir de seus direitos plenamente. Esses direitos estão assegurados na Constituição, no ECA, no Estatuto da Juventude e na Lei Orgânica Municipal, mas a violência tem retirado essa possibilidade. Precisamos criar mecanismos políticos para transformar essa realidade.”
Roberto Souza concluiu destacando que as ações em favor da infância não podem ser vistas apenas como investimento no futuro, mas como uma urgência do presente. “Crianças e adolescentes precisam de proteção e condições para uma vida digna agora, porque eles existem agora. Se não agirmos hoje, talvez nem futuro haja. É preciso pautar audiências públicas, recuperar propostas da última Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, engavetadas, e visibilizar as vozes de crianças e adolescentes na Câmara, para que esse diálogo chegue às pessoas gestoras das políticas públicas e ao próprio prefeito.”








Quem quiser conferir os melhores momentos do seminário em vídeo, basta acessar o Instagram da Associação Paulo Tonucci: https://www.instagram.com/associacaopaulotonucci/.